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segunda-feira, 13 de março de 2023

As Fases do Ministério da Palavra


Na igreja encontramos vários ministérios que expressam a Palavra de Deus. O aconselhamento, a evangelização e o discipulado exemplificam muito bem esses ministérios. Contudo, é a pregação o ministério da Palavra por excelência. 

O pregador cumpre o seu ministério em três fases sequenciais. Primeiramente, ele recebe a palavra de Deus. Meyer (2019), chama esse momento de administração. Ao pregador é confiada a palavra de Deus que ele deve anunciar com fidelidade. A administração nos lembra que a mensagem do pregador foi recebida e não criada por ele. Ele é um embaixador que fala em nome de Deus. 

O pregador deve ter a convicção de que sua mensagem foi recebida. Isso lhe dá o senso de responsabilidade em seu ministério. O pregador deve entregar o conteúdo que recebeu de Deus, caso contrário trará juízo para si. Uma vez que a mensagem é divina os resultados virão de Deus.

Paulo diz que em Rm 10:17: "¹⁷ E, assim, a fé vem pelo ouvir, e o ouvir, pela palavra de Cristo." A palavra que o pregador proclama é responsável por criar fé no coração do pecador. O Espírito Santo usa a pregação para despertar do sono o coração incrédulo. A fé produzida por meio da pregação abre os olhos do pecador lhe fazendo enxergar em Cristo o seu salvador. 

A fase que sucede a administração é a proclamação. Uma vez que a mensagem foi recebida ela deve ser anunciada. A pregação e o ensino são termos intercambiáveis na proclamação. A pregação é o aspecto relacionado ao tom da mensagem. O pregador anuncia em tom de “ouçam, ouçam”. Já o ensino está relacionado ao conteúdo proclamado. 

Sendo assim, podemos entender a proclamação como a mensagem de Deus anunciada em tom de urgência. É séria demais a mensagem que pregador proclama. Ele não pode falar em tom monótono e desinteressado. O destino eterno do pecador depende da reação que ele tem a proclamação. 

É interesse de Deus que a mensagem administrada seja pregada. O evangelho não foi dado para ser escondido. O mundo precisa ouvir acerca da grande obra de amor e graça que Jesus veio trazer. Portanto, o pregador deve proclamar em alto e bom som a obra que Jesus realizou para a salvação. 

Segue-se a proclamação, o encontro com a palavra. A proclamação é feita aos ouvintes e esses têm o dever de responder a mensagem anunciada. Se a mensagem for pregada com fidelidade, os ouvintes são postos diante da vida e da morte. O evangelho anuncia a salvação, porém aqueles que desprezam a mensagem tomam juízo para si. 

Como disse Paulo, o evangelho tem cheiro de vida ou fedor de morte para os ouvintes. 2Co 2:15-16: "Porque nós somos para com Deus o bom perfume de Cristo, tanto entre os que estão sendo salvos como entre os que estão se perdendo. Para com estes, cheiro de morte para morte; para com aqueles, aroma de vida para vida. Quem, porém, é capaz de fazer estas coisas?"

O pregador da palavra tem que passar por essas três fases do seu ministério. Ele deve ter convicção de que o conteúdo da sua pregação foi recebido de Deus. Sua administração é provada pela fidelidade a essa mensagem. O mundo precisa ouvir a proclamação dessa mensagem. O pregador deve ensinar em tom de urgência aquilo que Deus veio revelar em Cristo. Diante dessa mensagem, os ouvintes são instados a agir em obediência. Embora não seja o principal propósito do evangelho, negar a mensagem do pregador é trazer juízo sobre si.

Referência

MEYER, J. C. Teologia Bíblica da Pregação. São Paulo: Vida Nova, 2019.

segunda-feira, 4 de abril de 2022

O Ato da Pregação de Acordo com a Bíblia

        Infelizmente muitos pregadores que exercem o ministério há anos não têm uma definição clara do que seja pregação de acordo com a Bíblia. Definem o ato de pregar de acordo com as suas próprias experiências sem considerar o que a Bíblia tem a dizer. O resultado é um conceito equivocado do que seja o ato da pregação. O pior, isso acaba se refletindo nos púlpitos e na vida da igreja. 

Algumas palavras bíblicas precisam ser consideradas para um bom entendimento do que seja a pregação. É importante lembrar que são as Escrituras que nos dão a forma e o conteúdo dos nossos ministérios. Jesus é revelado através dela e aquilo que ele ensinou é o que precisamos levar a diante. Sendo assim, vamos observar quatro palavras que nos ajudam a definir o que seja o ato da pregação de acordo com a Bíblia. 

A primeira delas é o verbo grego “kerusso”. Basicamente ela significa “anunciar de maneira formal ou oficial por meio de um arauto ou de alguém que faz a vez de um arauto” (LOUW e NIDA, 2013, p. 368). Você pode ver essa palavra sendo usada para se referir a pregação de João Batista (Mt. 3.1). Um arauto era alguém que carregava a mensagem do rei. O rei tinha algo a dizer aos seus súditos e enviava o arauto para dar o comunicado. 

O arauto não podia deturpar a mensagem do soberano. Para cumprir bem o seu papel ele deveria dizer exatamente aquilo que recebeu, sem mudar nem corrigir. As palavras do arauto tinham autoridade porque vinham do rei. Quem desobedecesse às palavras do arauto estava sujeito às consequências impostas pelo rei. As palavras daquele mensageiro eram as palavras do soberano. 

      O pastor Olyott (2018) destaca que a ênfase da palavra kerusso na Bíblia está na transmissão. O pregador é um arauto que fala com a autoridade daquele que o enviou. Sendo assim, pregação é a comunicação autoritativa da vontade do rei soberano através da vida do pregador. 

Outra palavra que nos ajuda a entender o que é o ato da pregação de acordo com as Escrituras é “euangelizo”. Ela nos lembra a palavra “evangelizar”. Significa “comunicar uma boa notícia a respeito de algo” (LOUW e NIDA, 2013, p. 369). Quando usada no Novo Testamento se refere especificamente a boa nova a respeito de Jesus. A mensagem do anjo em Lucas 2.10 é uma boa notícia acerca do nascimento de Jesus. Diz o texto: “O anjo, porém, lhes disse: — Não tenham medo! Estou aqui para lhes trazer boa-nova de grande alegria, que será para todo o povo:" (Lc 2:10 – grifo nosso). 

É interessante notar que essa palavra não é usada para falar unicamente a descrentes. É comum acreditar que a evangelização deve acontecer apenas para os descrentes, contudo essa palavra também é usada na Bíblia para se referir a algo que fazemos aos crentes. Em Romanos 1.15 Paulo diz: "Por isso, quanto a mim, estou pronto a anunciar o evangelho (gr. “euangelizo”) também a vocês que estão em Roma." (Rm 1:15). Paulo não está falando a incrédulos, mas com aqueles que já criam em Jesus. Isso deve nos levar a refletir sobre o nosso entendimento de evangelização. A pregação é evangelização tanto a crentes como a descrentes. Para uns ela edifica, para outros ela persuade para a salvação. Ambos, crentes e descrentes, devem ser evangelizados. 

Uma terceira palavra bíblica que abre o nosso entendimento para o ato da pregação é o termo “martureo”. Essa é uma daquelas palavras que não se pode confundir com a ideia que se tem em nossos dias. Ela significa “dar testemunho dos fatos” (OLYOTT, 2018, p. 15). Em nossos dias quando ouvimos alguém diz que tem um testemunho quase sempre isso se refere a falar de alguma experiência subjetiva e emociona. Dar testemunho é algo objetivo. Martureo diz respeito a invocar alguém ou alguma coisa para testemunho de algo. Se refere a contar as pessoas fatos e acontecimentos que foram vistos ou ouvidos. 

A essa altura é importante que percebamos a relação que existe entre essas palavras. Pregar (kerusso) é fazer o papel de um arauto que proclama a mensagem dada pelo rei e essa mensagem é anunciada como boa notícia (euangelizo). Na pregação é dado o testemunho (martureo) dos fatos e acontecimentos que se viu e ouviu. No ato da pregação o pregador faz todas essas coisas. 

Por fim, vejamos a palavra “didasko”. Esse verbo grego significa “pronunciar em termos concretos o que a mensagem significa em referência ao viver” (OLYOTT, 2018, p. 16). A diferença entre esses termos não pode nos levar a fazer uma separação entre “pregação evangelística” e “pregação doutrinária” como muito vezes acontece. O pregador ao pregar (kerusso) evangeliza (euangelizo), testemunha (martureo) e, por fim, pronuncia as implicações daquilo que ele ensina na vida dos seus ouvintes (didasko). Como percebeu muito bem Stuart Olyott (2018, p. 17): “quando alguém faz o que significa um desses verbos, essa pessoa está fazendo, ao mesmo tempo, o que significa algum outro deles!”. 

Diante do que vimos, podemos concluir que na pregação quatro coisas acontecem. Cada um dos termos que observado acima diz respeito a algo que acontece quando pregamos a Palavra de Deus. Anunciamos a vontade do Rei, proclamamos a boa nova, damos testemunho do que ouvimos de Deus e pronunciamos como a mensagem se relaciona com o viver. Onde houver pregação verdadeira essas quatro coisas acontecerão ao mesmo tempo. 

Que Deus nos ajude a assim pregar!

Obras Citadas

LOUW, J.; NIDA, E. Léxico Grego-Português do Novo Testamento Baseado em Domínios Semânticos. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2013.

OLYOTT, S. Pregação Pura e Simples. São José dos Campos: Fiel, 2018.

quinta-feira, 23 de janeiro de 2020

O que é uma pregação?

O que é uma pregação? A pregação precisa ser compreendida antes de nos deter em qualquer outro assunto da homilética - a arte da pregação e entrega de sermões. Pregar tem haver com duas coisas: o caráter da mensagem que levamos e o que essa mensagem requer das pessoas que nos ouvem. 

A mensagem que levamos é a revelação de Deus contida nas Escrituras. Embora Deus se revele de forma geral por meio da criação e da consciência do homem, nós só podemos conhecer o seu evangelho por meio da Bíblia Sagrada. 

O pregador tem o dever de pregar o evangelho quando se dirige a seus ouvintes. O evangelho é a mensagem mais poderosa que ele pode dizer quando se dirige à congregação. Essa mensagem é “o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê” (Rm. 1.16). 

Uma vez que o evangelho é proclamado Deus exige uma resposta daqueles que ouvem a sua mensagem. 

Alguns ouvirão e aceitarão, outros rejeitarão e continuaram a viver em trevas. Essa escolha implica salvação ou juízo sobre a vida de todos que ouvem o evangelho. O pregador deve atentar para seu ministério com muito temor, pois as palavras dele têm implicações eternas sobre a vida de quem escuta sua pregação. 

Tome cuidado para que sua mensagem não seja apenas declarações de juízo. Você deve apresentar as boas novas aos que te ouvem. A proclamação do evangelho coloca diante dos ouvintes o caminho da vida e o caminho da morte. 

Se preocupe com a o conteúdo da mensagem que você tem anunciado em sua pregação. Pregação é verdade aplicada. Observe o que eu disse. Não existe pregação se apenas histórias e proposições são explicadas e afirmadas. A pregação é o ato de mostrar as implicações de tais coisas na vida das pessoas que nos ouvem. 

A verdade do texto bíblico precisa ser elucidada e logo em seguida aplicada. Um remédio prescrito só faz bem ao doente se for aplicado. Não adianta saber que um comprimido de Paracetamol pode aliviar a febre, é preciso ingeri-lo para que o efeito seja sentido. 

O conteúdo da mensagem que pregamos deve ser levado à vida das pessoas que nos ouvem. Elas saberão que a Bíblia é verdadeira quando experimentarem com a mente e com o coração aquilo que dizemos. 

Pregação não é um discurso sobre um tema. 

Não é difícil encontrar alguém que acredita que pregou depois de ter falado todos os aspectos de uma doutrina. Quando pregamos não estamos apenas explicando as relações entre as partes de um texto. Tudo isso está na pregação, mas o ato de pregar só acontece quando o princípio do texto bíblico faz algum sentido na vida das pessoas que nos ouvem. 

Portanto, escolher um texto bíblico e falar sobre ele não é o mesmo que pregar.  

Nós recebemos a responsabilidade de levar o evangelho à vida das pessoas. Para sermos fiéis a essa obrigação precisamos fazer com que a verdade de Deus ganhe sentido na vida dos nossos ouvintes. 

Portanto, dedique-se a conhecer todos os aspectos históricos, literários e teológicos das Escrituras, mas não deixe que a sua pregação se limite a isso. Aplique esses conhecimentos na vida das pessoas que te ouvem. Dessa forma você de fato estará pregando. 

Que Deus ilumine o teu ministério!

sexta-feira, 17 de janeiro de 2020

O que você precisa saber para distinguir entre ideia exegética e a proposição de um sermão

Uma das dificuldades mais comum entre os pregadores iniciantes está em saber diferenciar entre a IDEIA EXEGÉTICA e a PROPOSIÇÃO de um sermão. Vou dar a você algumas orientações quê te ajudarão a superar essa dificuldade:

A ideia exegética é o resultado do estudo exegético, ou seja, da aplicação dos princípios de interpretação da Bíblia (Hermenêutica). O propósito dela é ESCLARECER A IDEIA QUE O AUTOR BÍBLICO TRANSMITIU AOS PRIMEIROS OUVINTES. Normalmente a escrita da Ideia Exegética é marcada pelos verbos no pretérito (passado), os nomes do autor e dos destinatários (quando houver) e o princípio espiritual revelado pelo texto.

Veja um exemplo de redação de uma Ideia Exegética: PAULO PEDIU COMO PAI AOS CRISTÃOS GENTIOS DE ROMA QUE SANTIFICASSEM SEUS CORPOS NO CULTO A DEUS, POIS ESSE É O CULTO QUE AGRADA A DEUS.

Vejamos agora a proposição. 

A proposição É UMA AFIRMAÇÃO DO PRINCÍPIO BÍBLICO DESCOBERTO PELA EXEGESE DITA DE FORMA CONTEXTUALIZADA À IGREJA DOS NOSSOS DIAS. 

Você irá encontrar o princípio espiritual da proposição na ideia exegética. No exemplo acima o princípio espiritual (válido em todo tempo, no passado, no presente e no futuro) é: O CULTO QUE AGRADA A DEUS REQUER UM CORPO SANTIFICADO (esse princípio pode ser dito de outras formas, contanto que comunique a mesma coisa na sua essência). 

Diferente da ideia exegética, a proposição é dita (quase sempre) com o verbo no presente do indicativo. Por exemplo: DEVEMOS SANTIFICAR OS NOSSOS CORPO NO CULTO A DEUS.

Faça a ideia exegética buscando ouvir o que foi dito no passado e comunique com as suas palavras no presente o mesmo princípio dito outrora, essa última parte é a proposição do seu sermão. 

Bons estudos!

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segunda-feira, 13 de janeiro de 2020

Como ouvir a voz de Deus pela Bíblia Sagrada

Há pessoas que acreditam que Deus fala de forma ordinária quando lançam sorte sobre os textos das Escrituras. Fazem "roleta russa", um tipo de escolha aleatória, com os textos da Bíblia. Outrora, essa prática era muito vista nas caixinhas de promessas. A diferença era que na caixinha de promessas os versículos da Bíblia eram previamente escolhidos pelo fabricantes e mais fáceis de coincidirem com alguma situação do leitor. 

Deus revelou sua vontade num livro. Logo, devemos buscar compreender o que Ele nos diz lendo e interpretando as palavras, frases e parágrafos da Bíblia. 

Os místicos, que amam o mistério, sempre buscam ler a Bíblia pela hermenêutica do acaso. Para eles, quanto mais um texto bíblico coincidir com alguma situação, mais certeza eles tem de que ouviram a voz de Deus. Certamente eles terão que sabotar muitas de suas leituras, pois o que dizer dos números e genealogias da Bíblia. Que significado darão a um versículo escolhido ao acaso que diz: "de Benjamim, Abidã, filho de Gideoni;" (Números 1:11)? Não duvido que alguém ainda queira coincidir essa passagem.

Para ouvir a voz de Deus pelas Escrituras precisamos exercitar a leitura, a capacidade de interpretar letras, palavras e frases. 

Deus falou aos escritores da Bíblia e sua voz continua a ecoar pelos seus escritos. 

O leitor dos nossos dias precisa decodificar o que diz os textos da Bíblia usando as faculdades que Deus lhe dotou. Ou seja, é necessário usar os sentidos: visão, audição (ouvido interno) e tato (texto em braille) junto com a lógica. É por meio dos sentidos e da razão que o Espírito Santo comunica o amor de Deus.

Precisamos valorizar o estudo sério da Bíblia. 

Ao menosprezar o uso ordinário de leitura acabamos desprezando o meio escolhido por Deus para falar ao seu povo. 

Damos o devido valor a Bíblia quando aceitamos que ela é um livro, e como livro, deve ser usada como tal. 

O estudo exegético deve ser familiar a todo cristão. Os mestres precisam simplificar as ferramentas básicas de interpretação para os leigos, pois o relacionamento correto do cristão com Deus depende da interpretação correta das Escrituras. 

Não é bíblico, nem cristão, entregar a interpretação das Escrituras a um grupo seleto de especialistas. 

A voz de Deus deve está disponível a todos que queiram. Porém, para que de fato ouçamos a Deus precisamos estudar seriamente a Bíblia. Esse estudo sério não pode prescindir de uma interpretação bem feita.

Portanto, leiamos a Bíblia Sagrada e ouçamos a voz de Deus. Não deixe se enganar pelo acaso. Palavras podem coincidir com ocasiões que você está passando, mas com certeza essa relação não é o método ordinário dado por Deus para ouvir sua voz. 

Conheça a interpretação histórica-gramatical, que leva em consideração a história e a gramática para entender a Bíblia, e aplique seus princípios sob a direção do Espírito Santo. Assim você ouvirá de forma cristalina a voz de Deus e a sabedoria manifestada nas Escrituras.

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