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segunda-feira, 4 de abril de 2022

O Ato da Pregação de Acordo com a Bíblia

        Infelizmente muitos pregadores que exercem o ministério há anos não têm uma definição clara do que seja pregação de acordo com a Bíblia. Definem o ato de pregar de acordo com as suas próprias experiências sem considerar o que a Bíblia tem a dizer. O resultado é um conceito equivocado do que seja o ato da pregação. O pior, isso acaba se refletindo nos púlpitos e na vida da igreja. 

Algumas palavras bíblicas precisam ser consideradas para um bom entendimento do que seja a pregação. É importante lembrar que são as Escrituras que nos dão a forma e o conteúdo dos nossos ministérios. Jesus é revelado através dela e aquilo que ele ensinou é o que precisamos levar a diante. Sendo assim, vamos observar quatro palavras que nos ajudam a definir o que seja o ato da pregação de acordo com a Bíblia. 

A primeira delas é o verbo grego “kerusso”. Basicamente ela significa “anunciar de maneira formal ou oficial por meio de um arauto ou de alguém que faz a vez de um arauto” (LOUW e NIDA, 2013, p. 368). Você pode ver essa palavra sendo usada para se referir a pregação de João Batista (Mt. 3.1). Um arauto era alguém que carregava a mensagem do rei. O rei tinha algo a dizer aos seus súditos e enviava o arauto para dar o comunicado. 

O arauto não podia deturpar a mensagem do soberano. Para cumprir bem o seu papel ele deveria dizer exatamente aquilo que recebeu, sem mudar nem corrigir. As palavras do arauto tinham autoridade porque vinham do rei. Quem desobedecesse às palavras do arauto estava sujeito às consequências impostas pelo rei. As palavras daquele mensageiro eram as palavras do soberano. 

      O pastor Olyott (2018) destaca que a ênfase da palavra kerusso na Bíblia está na transmissão. O pregador é um arauto que fala com a autoridade daquele que o enviou. Sendo assim, pregação é a comunicação autoritativa da vontade do rei soberano através da vida do pregador. 

Outra palavra que nos ajuda a entender o que é o ato da pregação de acordo com as Escrituras é “euangelizo”. Ela nos lembra a palavra “evangelizar”. Significa “comunicar uma boa notícia a respeito de algo” (LOUW e NIDA, 2013, p. 369). Quando usada no Novo Testamento se refere especificamente a boa nova a respeito de Jesus. A mensagem do anjo em Lucas 2.10 é uma boa notícia acerca do nascimento de Jesus. Diz o texto: “O anjo, porém, lhes disse: — Não tenham medo! Estou aqui para lhes trazer boa-nova de grande alegria, que será para todo o povo:" (Lc 2:10 – grifo nosso). 

É interessante notar que essa palavra não é usada para falar unicamente a descrentes. É comum acreditar que a evangelização deve acontecer apenas para os descrentes, contudo essa palavra também é usada na Bíblia para se referir a algo que fazemos aos crentes. Em Romanos 1.15 Paulo diz: "Por isso, quanto a mim, estou pronto a anunciar o evangelho (gr. “euangelizo”) também a vocês que estão em Roma." (Rm 1:15). Paulo não está falando a incrédulos, mas com aqueles que já criam em Jesus. Isso deve nos levar a refletir sobre o nosso entendimento de evangelização. A pregação é evangelização tanto a crentes como a descrentes. Para uns ela edifica, para outros ela persuade para a salvação. Ambos, crentes e descrentes, devem ser evangelizados. 

Uma terceira palavra bíblica que abre o nosso entendimento para o ato da pregação é o termo “martureo”. Essa é uma daquelas palavras que não se pode confundir com a ideia que se tem em nossos dias. Ela significa “dar testemunho dos fatos” (OLYOTT, 2018, p. 15). Em nossos dias quando ouvimos alguém diz que tem um testemunho quase sempre isso se refere a falar de alguma experiência subjetiva e emociona. Dar testemunho é algo objetivo. Martureo diz respeito a invocar alguém ou alguma coisa para testemunho de algo. Se refere a contar as pessoas fatos e acontecimentos que foram vistos ou ouvidos. 

A essa altura é importante que percebamos a relação que existe entre essas palavras. Pregar (kerusso) é fazer o papel de um arauto que proclama a mensagem dada pelo rei e essa mensagem é anunciada como boa notícia (euangelizo). Na pregação é dado o testemunho (martureo) dos fatos e acontecimentos que se viu e ouviu. No ato da pregação o pregador faz todas essas coisas. 

Por fim, vejamos a palavra “didasko”. Esse verbo grego significa “pronunciar em termos concretos o que a mensagem significa em referência ao viver” (OLYOTT, 2018, p. 16). A diferença entre esses termos não pode nos levar a fazer uma separação entre “pregação evangelística” e “pregação doutrinária” como muito vezes acontece. O pregador ao pregar (kerusso) evangeliza (euangelizo), testemunha (martureo) e, por fim, pronuncia as implicações daquilo que ele ensina na vida dos seus ouvintes (didasko). Como percebeu muito bem Stuart Olyott (2018, p. 17): “quando alguém faz o que significa um desses verbos, essa pessoa está fazendo, ao mesmo tempo, o que significa algum outro deles!”. 

Diante do que vimos, podemos concluir que na pregação quatro coisas acontecem. Cada um dos termos que observado acima diz respeito a algo que acontece quando pregamos a Palavra de Deus. Anunciamos a vontade do Rei, proclamamos a boa nova, damos testemunho do que ouvimos de Deus e pronunciamos como a mensagem se relaciona com o viver. Onde houver pregação verdadeira essas quatro coisas acontecerão ao mesmo tempo. 

Que Deus nos ajude a assim pregar!

Obras Citadas

LOUW, J.; NIDA, E. Léxico Grego-Português do Novo Testamento Baseado em Domínios Semânticos. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2013.

OLYOTT, S. Pregação Pura e Simples. São José dos Campos: Fiel, 2018.

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