A igreja de Cristo não pode andar distante da
Palavra de Deus e ao mesmo tempo continuar fiel ao seu chamado. Nas Escrituras
estão os princípios pelos quais ela deve reger sua vida nessa existência.
Devemos ter consciência de que engenhosidade humana e o descaso para com a
Palavra é uma fórmula certa na produção de todo tipo de falácia e engano.
Para que esse perigo seja afastado de nossas
igrejas precisamos nos comprometer com a proclamação fiel das Escrituras.
Pregadores precisam ser treinados na exposição da Bíblia de maneira que igreja
se alimente das Escrituras e cresça para a glória de Deus. Assim seremos
capazes de ver o mundo pela ótica de Deus, e essa ótica é revelada na Palavra.
O sermão expositivo
Tradicionalmente são definidos três tipos de
sermões: sermão temático, textual e expositivo. A diferença que há entre eles
está na maneira com são estruturados. No sermão temático, o texto bíblico serve
apenas para sugerir um tema ao pregador; no textual, a ideia é retirada de
algum texto bíblico, porém seus argumentos e explicações são encontrados em
outras partes das Escrituras. Nesses dois tipos de sermões o pregador não tem a
preocupação em encontrar a ideia principal da passagem e como ela está
estruturada. Isso é uma preocupação do sermão expositivo.
O sermão expositivo, embora seja tido como um
tipo de sermão, é uma atitude que o pregador deve assumir diante do texto
sagrado. Quando se decide pregar de forma expositiva assume-se o pressuposto de
que cada passagem das Escrituras tem uma exortação de Deus ao seu povo e por
isso cabe ao pregador expor o que está ali com a finalidade de fazer a voz de
Deus ouvida na igreja.
Ao expor a Bíblia nós devemos nos lembrar do
compromisso que Deus tem com a sua revelação. Por mais eloquente que seja o
pregador e consiga cativar seus ouvintes, a pregação só será voz de Deus se o
que for proclamado for aquilo que Deus deseja comunicar. Pois é por meio da
pregação do Evangelho Bíblico que a voz de Deus ressoa no coração dos pecadores.
Como disse o apóstolo Paulo: “E, assim, a fé vem pela pregação, e a pregação,
pela palavra de Cristo” (Rm. 10.17). Por tal motivo é que devemos nos esmerar
na exposição das Escrituras a fim de que os homens ponham a sua fé na vontade
de Deus pregada.
Gostaria de apresentar a você algumas razões
pelas quais a pregação expositiva deve ser priorizada em nossos ministérios.
Antes de prosseguir é importante que você compreenda que não estou limitando o
ministério da pregação à forma de pregação expositiva. Acredito que há circunstâncias
que vão exigir uma organização da pregação no tipo textual ou temática. Contudo,
quando você tiver a possibilidade de escolher uma forma de pregar, sugiro que
seja a expositiva. Vejamos então algumas razões para isso.
I. A EXPOSIÇÃO DA BÍBLIA
NOS DÁ CERTEZA DE QUE SOMOS VOZ DE DEUS
Quando expomos o texto Bíblico fielmente
podemos ter a certeza de que a voz de Deus foi ouvida pela congregação. Essa
convicção da fé que temos nas Escrituras como Palavra de Deus. Nela temos a
revelação especial de para nós. Assim sendo, ouvimos a voz de Deus quando
ouvimos a Palavra de Deus. Qualquer acréscimo à revelação de Deus é um
acréscimo diabólico e maldito. Como disse Paulo à igreja: “Mas, ainda que nós
ou mesmo um anjo vindo do céu vos pregue evangelho que vá além do que vos temos
pregado, seja anátema” (Gl. 1.8).
A Bíblia Sagrada nos mostra que Deus age por
meio de sua Palavra. Sempre que ele fala uma ação acontece e as circunstâncias
são modificadas. Na criação do universo ele disse: “... Haja luz; e houve luz”
(Gn. 1.3). As palavras que saem de sua boca são sempre acompanhadas de resultados
reais. Ainda nos diz Isaías 55.10-11: “Porque, assim como descem a chuva e a
neve dos céus e para lá não tornam, sem que primeiro reguem a terra, e a
fecundem, e a façam brotar, para dar semente ao semeador e pão ao que come,
assim será a palavra que sair da minha boca: não voltará para mim vazia, mas
fará o que me apraz e prosperará naquilo para que a designei”. Ao expor o texto
sagrado temos a certeza de que a voz de Deus cumprirá o seu propósito.
O impacto da Palavra de Deus na vida dos nossos
ouvintes nem sempre são visíveis de imediato. Ela opera no coração do homem, e
nesse lugar só Deus é capaz de ver. Porém, ao expor com fidelidade a vontade de
Deus podemos ter a plena certeza de que ela, de uma forma poderosa, está
operando no coração dos nossos ouvintes. Naqueles dias que você julga que a tua
pregação não foi das melhores, lembre-se que o poder de Deus está na Palavra
dele, mesmo que você não tenha tido um bom desempenho no púlpito. O pregador
expositivo sempre tem seu coração animado pelas Escrituras, pois há dias em que
a simples exposição dela causa grandes mudanças na vida das pessoas que nos
ouvem.
A pregação expositiva nos dá a certeza de que
somos voz de Deus diante dos nossos ouvintes. Além disso, podemos ter a convicção
de que os propósitos de Deus serão realizados na vida do seu povo. Os dois
fatos estão juntos. Se é Deus quem fala, nada pode impedir o que ele deseja
realizar.
II. A EXPOSIÇÃO DA
BÍBLIA ALCANÇARÁ O PROPÓSITO DE DEUS
Qual o propósito da Palavra de Deus? Essa é uma
pergunta que devemos ter em mente ao avaliar os resultados da nossa pregação. A
Bíblia nos foi dada por Deus para que sejamos aperfeiçoados no exercício de sua
vontade. Ao meditar nas Escrituras e obedecê-las nós nos amoldamos àquilo que
Deus deseja para nossas vidas. Dessa forma a vontade do Pai celestial é
realizada em nossas vidas.
O apóstolo Paulo ao instruir Timóteo acerca da
Palavra, disse: “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para
a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado
para toda boa obra” (2 Tm. 3.16-17 – grifo nosso). A Palavra de Deus deve
ser proclamada para que o seu povo seja aperfeiçoado. Esse aperfeiçoamento é medido
pela vida de Cristo na igreja. Quanto mais parecidos com Cristo mais próximo da
perfeição nós estamos. O pregador deve ter isso em mente.
Infelizmente aquilo que tem sido chamado de
pregação em nossos dias anda distante do propósito de Deus. Os desejos dos
ouvintes muitas vezes tem assumido a proeminência em muitos púlpitos.
Pregadores que descobriram como ganhar de forma fácil a audiência dos seus
ouvintes anunciam uma palavra que não cumpre o propósito de Deus. A preleção
deles não anuncia a vontade de Deus em Cristo. O resultado são crentes amantes
do mundo e dos seus prazeres e aquém da vida de Jesus. A pregação da Palavra de
Deus anuncia a Cristo como o centro para onde todas as coisas do universo,
inclusive as nossas vidas, devem convergir.
Se você tem sido fiel ao que Deus deseja
comunicar ao seu povo, descanse o seu coração no agir de Deus na vida dos seus
ouvintes. Vigie para que o teu coração não confie mais no seu desempenho do que
no Espírito de Deus, que age por meio da Palavra. O Espírito Santo é quem
cuidará para que as palavras que você expõe resultem em vida.
Por fim, a glória de Deus em Cristo é vista na
exposição do texto sagrado. A mente humana é incapaz de descrever a beleza de
Deus. Contudo, quando anunciamos fielmente a Cristo Jesus nossos ouvintes estão
diante da glória do Pai.
III. A PREGAÇÃO
EXPOSITIVA REVELA A GLÓRIA DE DEUS EM CRISTO
Ninguém jamais viu a Deus, porém aqueles que
têm o seus olhos abertos para verem quem de fato é Jesus podem ver a glória do
Pai. Ele nos revela o amor e toda a sabedoria de Deus. Os incrédulos não
conseguem ver isso, pois seus olhos estão tampados. Paulo disse: “Mas, se o
nosso evangelho ainda está encoberto, é para os que se perdem que está
encoberto, nos quais o deus deste século cegou o entendimento dos incrédulos,
para que a luz do evangelho da glória de
Cristo, o qual é a imagem de Deus” (2 Co. 4.3-4). Ou seja, os incrédulos
não conseguem ver a revelação de Deus em Cristo Jesus.
A pregação expositiva deve levar os ouvintes a
verem o “evangelho da glória de Cristo”. Toda a Bíblia aponta para Jesus. A lei
revela a caráter de Cristo; as poesias e provérbios revelam a sabedoria de
Cristo; os profetas anunciam o reino de Cristo etc. Como bem ensina Chapell
(2016), a pregação expositiva deve ser “pregação cristocêntrica”. É expondo a
Palavra de Deus com fidelidade que Cristo brotará no meio da cada explicação. E
assim, quando ele aparece Deus também aparece, pois ele é a imagem de Deus. É
dessa forma que a glória divina é revelada e o pregador expositivo deve expor
isso com maestria para que Cristo seja adorado.
O apóstolo Paulo nos diz que Cristo abriu mão
de sua glória e veio a esse mundo como servo (v. Fp. 2.5-11). Com isso ele nos
mostra a profunda humildade do nosso Senhor. Mesmo sendo o Criador do universo,
infinito e sublime em glória, esteve entre nós como servo de todos. Serviu-nos
com a sua vida na cruz do Calvário. Naquele pobre homem de Nazaré poucos eram
os que conseguiam vê a glória de Deus. Mas foi plano do Pai que a sua humilhação
precedesse a revelação da sua glória. Tudo o que ele sofreu foi para todos
confessem “que Jesus Cristo é Senhor, para a glória de Deus Pai” (v. 11).
Portanto, é o Cristo humilhando e exaltado que
deve está em cada exposição da Bíblia Sagrada. Você encontrará aspectos da
humilhação e exaltação dele em cada passagem que decidir pregar. Isso deve ser
anunciado a fim de que glória seja dada ao Filho de Deus que nos salvou, Jesus.
CONCLUSÃO
Se me perguntassem: qual o tipo de sermão a
igreja dos nossos dias mais necessita? Sem sombra de dúvida eu responderia: o
sermão que exponha fielmente a palavra de Deus. A explicação e aplicação das
Escrituras nos faz voz de Deus à nossas congregações. É dessa forma que o Pai cumpre
o seu propósito na vida dos nossos ouvintes e o evangelho de Cristo é
proclamado integralmente.
Portanto, esforce-se para expor todo o conselho
de Deus. Não deixe que os desejos da multidão faça da sua pregação um meio de
massagem para o ego. Seja consolo, quando houver necessidade, mas também seja
martelo que quebra os corações endurecidos pelo pecado. Para isso, exponha com
fidelidade a vontade de Deus.
Referências:
CHAPELL, Bryan. Pregação Cristocêntrica. 3 ed. São Paulo: Cultura Cristã, 2016.