“O Novo Testamento
acha-se no Velho. O Velho pelo Novo é explicado.” (Agostinho 354 - 430 d.C)
As palavras de Agostinho revelam a
importância do Novo Testamento (NT) para o entendimento da Bíblia. A revelação
de Cristo se encontra nessa parte das Escrituras. Aquilo que a Lei e os
Profetas ensinaram se concretizou na revelação de Jesus Cristo. Assim, o Novo
Testamento nos facilita a compressão e aplicação do Antigo Testamento.
O cânon é compreendido como a coleção de livros
inspirados por Deus (2 Tm. 3.16). O cânon do Novo Testamento é formado por 27
livros (4 Evangelhos, 1 Livro Histórico, 21 Epístolas e 1 Livro de Profecia).
Essa coleção nos revela a providência de Deus na compilação e preservação dos
textos Sagrados, pois sua formação se deu progressivamente na história da
igreja sem que sua mensagem principal sofresse quaisquer alterações.
A formação do texto Bíblico que possuímos em
nossas mãos foi supervisionada por Deus a fim de nos abençoar com o Evangelho
do nosso Senhor Jesus Cristo.
Nesse texto introduziremos você à formação do
cânon do Novo Testamento. Buscaremos entender e analisar os fatores que
influenciaram na constituição do cânon Neotestamentário.
1. O CÂNON DO ANTIGO
TESTAMENTO
A formação do Novo Testamento não aboliu a
revelação do Antigo Testamento. Os seguidores de Jesus compreendiam que ele não
veio para abolir a Lei, mas para cumpri-la (Mt. 5.17). É importante notar que
os princípios morais da Antiga Aliança continuam válidos para a igreja dos
nossos dias. Contudo, isso não quer dizer que todo o Antigo Testamento seja
aplicável à igreja. Muito do que foi dito na Antiga Aliança, especialmente nas
leis cerimoniais, se cumpriu em Jesus, perdendo sua aplicabilidade para o povo
de Deus do Novo Testamento.
A coleção de livros inspirados que formam o
Antigo Testamento tem uma palavra de esperança para a igreja. O apóstolo Paulo
revela isso na sua epístola aos Romanos: “Pois tudo quanto, outrora, foi
escrito [no Antigo Testamento] para o nosso ensino foi escrito, a fim de que,
pela paciência e pela consolação das Escrituras, tenhamos esperança” (Rm.
15.4).
A compreensão do Antigo Testamento como um
cânon contribuiu para que a igreja nos primeiros séculos pudesse também ter uma
coleção que esclarecesse os ensinos de outrora. Precisamos ter em mente que a
história bíblica é uma história redentiva, ou seja, ela caminha em todas as
suas partes para a revelação de Jesus Cristo. Dessa forma podemos encontrar
Jesus em toda a Bíblia. Ele está no contexto de cada passagem e o Novo
Testamento é o ápice dessa revelação.
Além da aceitação de um cânon da Antiga
Aliança, os ensinamentos de Jesus foram determinantes para a formação da
coleção de livros do Novo Testamento.
2. A CONSIDERAÇÃO DA
IGREJA ÀS PALAVRAS DE JESUS
Jesus foi considerado pela igreja primitiva
como sendo a Palavra encarnada de Deus (Jo. 1.14). Seus ensinos deveriam ser
obedecidos. Como introduz o escritor aos Hebreus: “Havendo Deus, outrora,
falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, nestes
últimos dias, nos falou pelo Filho, a
quem constituiu herdeiro de todas as coisas, pelo qual também fez o universo”
(Hb. 1.1,2 – grifo nosso).
As palavras de Jesus deveriam ser guardadas e
para isso seria necessário que alguém pudesse escrever e organizar aquilo que
ele ensinou. O desejo de preservar os ditos de Jesus e a sua história, uma vez
que nela está a relação do Evangelho de Deus, influenciou na organização de uma
coleção de livros que conservou fielmente os ensinos de Jesus.
O ensino de Jesus foi considerado de suma
importância para a prática da igreja e os apóstolos e os seguidores do Senhor foram
os canais escolhidos por Deus para a transmissão do Evangelho até os confins da
terra (At. 1.8).
3. A ESCOLHA DOS
APÓSTOLOS PARA SEREM TESTEMUNHAS DE CRISTO
Jesus não escreveu diretamente nenhum livro do
Novo Testamento. Sua história é contada por homens que foram inspirados pelo
Espírito Santo para a tarefa de conservar viva a história de Jesus tanto
oralmente, quanto de forma escrita.
O testemunho desses homens deveria ser
considerado como palavra do próprio Cristo. “Quem vos der ouvidos ouve-me a mim; e quem vos rejeitar a mim
me rejeita; quem, porém, me rejeitar rejeita aquele que me enviou” (Lc. 10.16 –
grifo nosso).
Logo, o testemunho oral e escrito dos apóstolos
passou a ser considerado com a mesma autoridade de Jesus. A igreja teve na mais
alta consideração aquilo que era ensinado pelos apóstolos: “Assim, pois,
irmãos, permanecei firmes e guardai as tradições que vos foram ensinadas, seja
por palavra, seja por epístola nossa” (2 Ts. 2.15).
Mesmo que Jesus não tenha escrito nenhum livro,
a sua autoridade permaneceu viva através dos escritos apostólicos que logo cedo
foram considerados pela igreja como sendo de inspiração divina.
Por fim, outro fator que contribuiu para a
formação do Novo Testamento foi o aparecimento de falsos mestres e suas
heresias.
4. A NECESSIDADE DE
PRESERVAÇÃO DO ENSINO APOSTÓLICO CONTRA AS DISTORÇÕES
PROMOVIDAS PELOS FALSOS MESTRES
Os discípulos de Jesus haviam sido avisados do
surgimento dos falsos mestres (Mt. 7.15; 24.11) e avisaram as igrejas sobre suas
distorções (2 Co. 11.13; 2 Pe. 2.1).
Os mestres gnósticos estimularam a formação de
um cânon. Nos primeiros séculos germinou uma série de literaturas heréticas que
deturpavam o ensino de Cristo. A descoberta da Biblioteca de Nag Hammadi, no Egito,
em 1945, revelou vários desses escritos.
O primeiro a sugerir um cânon cristão do Novo
Testamento foi Marcião (séc. II). Ele rejeitou o Antigo e aceitou 10 epístolas
de Paulo e uma versão revisada de Lucas.
Por outro lado, o cânon de Irineu, bispo de
Lyon (c. 178-200) foi o primeiro a organizar uma coleção de livros próxima da
coleção que adotamos atualmente: 4 evangelhos, Atos, 12 Epístolas Paulinas (com
exceção de Filemon), 1 Pedro, 1 e 2 João, Apocalipse e algumas alusões a Tiago
e Hebreus.
O cânon Muratoriano (aprox. 170 d.C) acata os
27 livros, com exceção de: Hebreus, Tiago, 1 e 2 Pedro e 3 João. E acrescenta
Apocalipse de Pedro e a Sabedoria de Salomão.
A coleção dos 27 livros do Novo Testamento como
temos atualmente foi primeiramente relatada na carta de Páscoa de Atanásio (367
d.C). No final do mesmo século (397), o Concílio de Cartago prescreveu uma
lista idêntica, a qual foi ratificada novamente em Cartago, em 419 d.C.
Sob a pressão das heresias a igreja se viu
forçada a organizar uma coleção de livros que revelassem a fé conforme o nosso
Senhor Jesus Cristo ensinara. Assim, se formou a coleção de livros como temos
atualmente.
CONCLUSÃO
O Novo Testamento revela Jesus como tema
central. Sua morte estava profetizada no cânon do Antigo Testamento e se
cristalizou no ensino de Cristo e dos apóstolos. Para isso Deus operou na
história da sua igreja, permitindo o surgimento de hereges os quais instigaram
o seu povo a organizar os seus Escritos Sagrados conforme temos hoje. Portanto,
tenhamos corações gratos por ter a revelação de Cristo Jesus em nossas mãos.
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Muito bom o resumo da importância do novo e antigo testamento, bem esclarecedor com um argumento Cristocêntrico. Tudo para a glória do SENHOR. Parabéns a todos envolvidos direto ou indiretamente nessa explanação.
ResponderExcluirÉ isso aí, Alfredo. Glória a Deus!
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