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terça-feira, 23 de janeiro de 2018

A formação do Novo Testamento

“O Novo Testamento acha-se no Velho. O Velho pelo Novo é explicado.” (Agostinho 354 - 430 d.C)

As palavras de Agostinho revelam a importância do Novo Testamento (NT) para o entendimento da Bíblia. A revelação de Cristo se encontra nessa parte das Escrituras. Aquilo que a Lei e os Profetas ensinaram se concretizou na revelação de Jesus Cristo. Assim, o Novo Testamento nos facilita a compressão e aplicação do Antigo Testamento.

O cânon é compreendido como a coleção de livros inspirados por Deus (2 Tm. 3.16). O cânon do Novo Testamento é formado por 27 livros (4 Evangelhos, 1 Livro Histórico, 21 Epístolas e 1 Livro de Profecia). Essa coleção nos revela a providência de Deus na compilação e preservação dos textos Sagrados, pois sua formação se deu progressivamente na história da igreja sem que sua mensagem principal sofresse quaisquer alterações.

A formação do texto Bíblico que possuímos em nossas mãos foi supervisionada por Deus a fim de nos abençoar com o Evangelho do nosso Senhor Jesus Cristo.

Nesse texto introduziremos você à formação do cânon do Novo Testamento. Buscaremos entender e analisar os fatores que influenciaram na constituição do cânon Neotestamentário.

1. O CÂNON DO ANTIGO TESTAMENTO

A formação do Novo Testamento não aboliu a revelação do Antigo Testamento. Os seguidores de Jesus compreendiam que ele não veio para abolir a Lei, mas para cumpri-la (Mt. 5.17). É importante notar que os princípios morais da Antiga Aliança continuam válidos para a igreja dos nossos dias. Contudo, isso não quer dizer que todo o Antigo Testamento seja aplicável à igreja. Muito do que foi dito na Antiga Aliança, especialmente nas leis cerimoniais, se cumpriu em Jesus, perdendo sua aplicabilidade para o povo de Deus do Novo Testamento.

A coleção de livros inspirados que formam o Antigo Testamento tem uma palavra de esperança para a igreja. O apóstolo Paulo revela isso na sua epístola aos Romanos: “Pois tudo quanto, outrora, foi escrito [no Antigo Testamento] para o nosso ensino foi escrito, a fim de que, pela paciência e pela consolação das Escrituras, tenhamos esperança” (Rm. 15.4).

A compreensão do Antigo Testamento como um cânon contribuiu para que a igreja nos primeiros séculos pudesse também ter uma coleção que esclarecesse os ensinos de outrora. Precisamos ter em mente que a história bíblica é uma história redentiva, ou seja, ela caminha em todas as suas partes para a revelação de Jesus Cristo. Dessa forma podemos encontrar Jesus em toda a Bíblia. Ele está no contexto de cada passagem e o Novo Testamento é o ápice dessa revelação.

Além da aceitação de um cânon da Antiga Aliança, os ensinamentos de Jesus foram determinantes para a formação da coleção de livros do Novo Testamento.

2. A CONSIDERAÇÃO DA IGREJA ÀS PALAVRAS DE JESUS

Jesus foi considerado pela igreja primitiva como sendo a Palavra encarnada de Deus (Jo. 1.14). Seus ensinos deveriam ser obedecidos. Como introduz o escritor aos Hebreus: “Havendo Deus, outrora, falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, nestes últimos dias, nos falou pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas, pelo qual também fez o universo” (Hb. 1.1,2 – grifo nosso).

As palavras de Jesus deveriam ser guardadas e para isso seria necessário que alguém pudesse escrever e organizar aquilo que ele ensinou. O desejo de preservar os ditos de Jesus e a sua história, uma vez que nela está a relação do Evangelho de Deus, influenciou na organização de uma coleção de livros que conservou fielmente os ensinos de Jesus.

O ensino de Jesus foi considerado de suma importância para a prática da igreja e os apóstolos e os seguidores do Senhor foram os canais escolhidos por Deus para a transmissão do Evangelho até os confins da terra (At. 1.8).

3. A ESCOLHA DOS APÓSTOLOS PARA SEREM TESTEMUNHAS DE CRISTO

Jesus não escreveu diretamente nenhum livro do Novo Testamento. Sua história é contada por homens que foram inspirados pelo Espírito Santo para a tarefa de conservar viva a história de Jesus tanto oralmente, quanto de forma escrita.

O testemunho desses homens deveria ser considerado como palavra do próprio Cristo. “Quem vos der ouvidos ouve-me a mim; e quem vos rejeitar a mim me rejeita; quem, porém, me rejeitar rejeita aquele que me enviou” (Lc. 10.16 – grifo nosso).

Logo, o testemunho oral e escrito dos apóstolos passou a ser considerado com a mesma autoridade de Jesus. A igreja teve na mais alta consideração aquilo que era ensinado pelos apóstolos: “Assim, pois, irmãos, permanecei firmes e guardai as tradições que vos foram ensinadas, seja por palavra, seja por epístola nossa” (2 Ts. 2.15).

Mesmo que Jesus não tenha escrito nenhum livro, a sua autoridade permaneceu viva através dos escritos apostólicos que logo cedo foram considerados pela igreja como sendo de inspiração divina.

Por fim, outro fator que contribuiu para a formação do Novo Testamento foi o aparecimento de falsos mestres e suas heresias.

4. A NECESSIDADE DE PRESERVAÇÃO DO ENSINO APOSTÓLICO CONTRA AS DISTORÇÕES PROMOVIDAS PELOS FALSOS MESTRES

Os discípulos de Jesus haviam sido avisados do surgimento dos falsos mestres (Mt. 7.15; 24.11) e avisaram as igrejas sobre suas distorções (2 Co. 11.13; 2 Pe. 2.1).

Os mestres gnósticos estimularam a formação de um cânon. Nos primeiros séculos germinou uma série de literaturas heréticas que deturpavam o ensino de Cristo. A descoberta da Biblioteca de Nag Hammadi, no Egito, em 1945, revelou vários desses escritos.

O primeiro a sugerir um cânon cristão do Novo Testamento foi Marcião (séc. II). Ele rejeitou o Antigo e aceitou 10 epístolas de Paulo e uma versão revisada de Lucas.

Por outro lado, o cânon de Irineu, bispo de Lyon (c. 178-200) foi o primeiro a organizar uma coleção de livros próxima da coleção que adotamos atualmente: 4 evangelhos, Atos, 12 Epístolas Paulinas (com exceção de Filemon), 1 Pedro, 1 e 2 João, Apocalipse e algumas alusões a Tiago e Hebreus.

O cânon Muratoriano (aprox. 170 d.C) acata os 27 livros, com exceção de: Hebreus, Tiago, 1 e 2 Pedro e 3 João. E acrescenta Apocalipse de Pedro e a Sabedoria de Salomão.

A coleção dos 27 livros do Novo Testamento como temos atualmente foi primeiramente relatada na carta de Páscoa de Atanásio (367 d.C). No final do mesmo século (397), o Concílio de Cartago prescreveu uma lista idêntica, a qual foi ratificada novamente em Cartago, em 419 d.C.     

Sob a pressão das heresias a igreja se viu forçada a organizar uma coleção de livros que revelassem a fé conforme o nosso Senhor Jesus Cristo ensinara. Assim, se formou a coleção de livros como temos atualmente.

CONCLUSÃO

O Novo Testamento revela Jesus como tema central. Sua morte estava profetizada no cânon do Antigo Testamento e se cristalizou no ensino de Cristo e dos apóstolos. Para isso Deus operou na história da sua igreja, permitindo o surgimento de hereges os quais instigaram o seu povo a organizar os seus Escritos Sagrados conforme temos hoje. Portanto, tenhamos corações gratos por ter a revelação de Cristo Jesus em nossas mãos.

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BÍBLIOGRAFIA

BRUCE, F. F. O Cânon das Escrituras. São Paulo: Hagnos, 2011.

CHAPELL, Bryan. Pregação Cristocêntrica. 3. ed. São Paulo: Cultura Cristã, 2016.

CARSON, D. A.; MOO, Douglas J.; MORRIS, Leon. Introdução ao Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 1997.

CÉSAR, Bruno. O Livro de Deus. João Pessoa: Grafia Curso, 2017.

DOCKERY, David S.. Manual Bíblico Vida Nova. São Paulo: Vida Nova, 2001.

GEISLER, Norma; NIX, William. Introdução Bíblica. São Paulo: Vida, 1997.


PAROSHI, Wilson. Origem e Transmissão do Texto do Novo Testamento. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2012.

2 comentários:

  1. Muito bom o resumo da importância do novo e antigo testamento, bem esclarecedor com um argumento Cristocêntrico. Tudo para a glória do SENHOR. Parabéns a todos envolvidos direto ou indiretamente nessa explanação.

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