Os primeiros minutos de uma pregação são muito
importantes para qualquer pregador. Nesse momento ligamos o interesse dos
nossos ouvintes àquilo que a Bíblia (Deus) tem a dizer ao seu povo.
Neste artigo gostaria de apresentar a você o
método que João Calvino, grande reformado de Genebra, usava na introdução de suas
exposições e refletir sobre a aplicação de seus princípios à pregação dos
nossos dias.
Usarei como fonte o livro “A Arte Expositiva de João Calvino” do Steven J. Lawson (1). Nele o
seu autor descreve 31 aspectos da pregação expositiva de Calvino. Suas
informações nos dão um panorama muito interessante sobre a maneira como o
reformador genebrino organizava e expunha a Palavra de Deus.
Primeiramente, Calvino introduzia a exposição
indo direto a passagem a ser exposta.
DIRETO AO TEXTO BÍBLICO
Ele entendia que os ouvintes deveriam ter
contato com o texto das Escrituras o mais rápido possível. Calvino cria que
Deus ministrava a sua igreja por intermédio da Palavra de Deus pregada e não
por meio da oratória do pregador. Por isso, o mais importante era que o povo
ouvisse e entendesse o texto, em detrimento dos enfeites do discurso. Como
percebeu Lawson: “Ele não era um orador eloquente, mas sim um expositor dos
ensinamentos bíblicos” (2).
Quando Calvino não ia direto ao texto, ele
fazia uma citação da ideia do último sermão pregado. Revisava o sermão anterior
para introduzir uma nova mensagem. Essa era um marca das suas exposições.
Vejamos um exemplo:
“Ontem, analisamos o que Miquéias diz aqui: que por causa de nossa
malícia e rebelião somos privados da salvação e, ao menos que o próprio Deus
nos ensine, não resistiremos por muito tempo” (3).
Ir direto ao texto em alguns casos pode ser uma
estratégia eficiente, contudo, mais importante do que isso é a maneira como
Calvino percebia a autoridade do texto bíblico. Para ele a autoridade de Deus
se faz presente na igreja por meio da Palavra, logo ela deveria ser exposta o
mais rápido possível.
Calvino não usava esboços em suas pregações.
ELE PREGAVA SEM ESBOÇO
O esboço serve de apoio à mente do pregador.
Por meio dele é possível lembrar-se do que foi estudado e manter a unidade e
propósito de uma mensagem. Contudo, para Calvino o mais importante era que o
sermão estivesse internalizado em seu coração. Dessa forma ele acreditava que a
pregação soaria de uma maneira mais simples aos ouvintes comuns, que não eram
estudiosos nem profissionais da pregação.
O reformador não menosprezava a preparação para
pregação, muito pelo contrário. Ele gastava horas estudando o texto e se
apropriando das ideias da passagem a fim de transmitir com clareza e
naturalidade aquilo que o texto bíblico ensinava da parte de Deus a sua
congregação. Suas palavras deixam isso claro:
“Se eu subisse ao púlpito sem ao menos ter olhado para o livro, e
pensasse de forma frívola: ‘Ah, bem, quando eu começar a pregar, Deus me dará o
suficiente para dizer’ e, então, viesse aqui sem me preocupar com o texto que
leria ou sem pensar no que devo declarar, e se não considerasse com cuidado um
maneira de aplicar as Sagradas Escrituras para a edificação do povo, eu seria
pretensioso arrogante” (4).
Calvino nos ensina a importância de ter o
sermão bem guardado na mente e no coração. Particularmente acredito que quanto
menos dependemos de rascunhos e esboços no ato da pregação e mais daquilo que
Deus nos mostrou durante o estudo, maior será a facilidade que teremos de
chegar ao coração dos nossos ouvintes. A naturalidade com que expomos a Palavra
abre as portas do coração daqueles que nos ouvem e esse deve ser o alvo de todo
pregador.
O reformador genebrino acreditava que as
palavras da Bíblia deveriam ser entendidas dentro do seu contexto e assim
introduzia seus sermões contextualizando a passagem que ia expor.
ELE CONTEXTUALIZAVA A PASSAGEM A SER PREGADA
A contextualização leva os ouvintes a
perceberem as palavras do texto bíblico pela ótica dos primeiros ouvintes. Essa
etapa envolve o estudo da gramática e do pano de fundo histórico e social do texto
com o objetivo de que a verdade que Deus deseja comunicar seja descoberta aos
ouvintes dos nossos dias. Calvino fez isso com maestria.
Seus estudos exegéticos eram profundos e lhe
davam condições de montar um quadro do contexto de cada passagem. Essa sua
habilidade era logo percebida na introdução de suas pregações. Seus ouvintes
eram levados a pintar em suas mentes o contexto do público original a quem o
texto se referia.
Ao pregar a Palavra de Deus não podemos nos esquecer
de contextualizá-la de forma adequada. Isso livrará a exposição bíblica do
legalismo que muitas passagens parecem nos colocar.
No contexto mais amplo, toda a Bíblia é
revelação da história da redenção, logo revelação de Cristo (5). Tendo isso em
mente a revelação de Jesus nos ajudará a contextualizar cada texto de forma adequada.
Calvino entendia que antes de expor um texto
bíblico o pregador deveria fazer a contextualização. Caso contrário, os
ouvintes poderiam ter suas mentes confundidas.
CONCLUSÃO
João Calvino não era o mais eloquente dos
pregadores de sua época, contudo seu amor pela glória de Deus fez dele um
profundo expositor da Santa Palavra (6). Sua maneira de iniciar seus sermões
nos revela uma pregação moldada pelo interesse de ver seus ouvintes em contato
com a verdade gloriosa de Deus. Esse não deve ser o interesse só de João Calvino,
mas dos pregadores de todas as épocas. Que Deus nos ajude!
Até o próximo post!
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REFERÊNCIAS
(1) LAWSON, Steven J. A Arte Expositiva de João Calvino. São José dos Campos: Editora
Fiel, 2017.
(2) Idem, p. 59.
(3) CALVIN, John. Sermons on the Book of Micah. In:
FARLEY, Benjamin W. (Ed. e Trad.) Phillips-burg, NJ: P&R Publishing, 2003,
p. 18.
(4) CALVIN, John. Em um sermão
sobre Deuteronômio 6.13-15, citado por T. H. L. Parker (Calvin’s preaching, Louisville, KY: Westminster/John Knox Presse,
1992), p. 81.
(5) Ver BRYAN, Chapell. Pregação Cristocêntrica. 3. ed. São Paulo: Cultura Cristã: 2016;
GREIDANUS, Sidney. Pregando Cristo a
partir do Antigo Testamento. São Paulo: Cultura Cristã, 2006; KELLER,
Timothy. Pregação: comunicando a fé na
era do ceticismo. São Paulo: Vida Nova, 2017.
(6) Ver KELLER, Timothy. Pregação: comunicando a fé na era do ceticismo. São Paulo: Vida
Nova, 2017, p. 14.
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